Diversidade: qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado
Pensar diversidade no jornalismo é reforçar dois aspectos: o da inclusão e o do reconhecimento. Inclusão de grupos que historicamente foram preteridos, como mulheres, pessoas trans, negras e indígenas. Reconhecimento daquilo e de quem vemos nas TV’s, sites e jornais impressos.
Ter uma redação em que pessoas de diferentes localidades, gêneros e raças trabalham juntas é criar um conteúdo e uma linha editorial em que perspectivas diversas são contempladas e representadas. Isso evita que o jornalismo seja excludente, que não tenha uma análise de conjuntura plausível e, principalmente, que as pautas não retratem a realidade.
A Abaré quer levantar esse tema na segunda edição do levantamento ‘Jornalistas manauaras em meio à pandemia’. Na primeira edição do levantamento, tratamos dos impactos quanto ao teletrabalho, demissões e ataques à imprensa neste período. Desta vez, fizemos um recorte de gênero, raça e sexualidade, para entender de que forma a diversidade e a representatividade nas redações foi impactada.
Apesar de perceptível quando olhamos imagens das redações de Manaus, o que ficou claro, a partir dos dados coletados, é que as redações manauaras estão menos diversas e essa é uma realidade que deve ser enfrentada pelos gestores no pós-pandemia.
O jornalismo, para ser bem feito, necessita de olhares distintos, de pessoas distintas, afinal, o Brasil é composto de diversos pontos de vista. Se o jornalismo quer retratar esses pontos de vista diversos, nada melhor do que trazê-los para dentro das redações.
Em resumo, ainda que os veículos de comunicação também sofram os efeitos econômicos da crise causada pelo coronavírus, as redações chegam a este 1º de maio, dia do trabalho, menos diversas - e isso impacta diretamente no jornalismo que é produzido nas nossas redações.
Metodologia
Olhar para a falta de diversidade é o primeiro passo para nos tornarmos mais diversos. Os dados que compõem este levantamento foram obtidos a partir de um formulário online, que recebeu respostas entre os dias 1º e 23 de abril.
Obtivemos respostas de jornalistas dos mais diversos cargos em 28 veículos de comunicação da cidade, dentre alguns dos principais grupos como A Crítica, Rede Amazônica, Band Amazonas, Em Tempo, Difusora, Amazonas Atual e Revista Cenarium.
O nosso formulário foi respondido por 18 pessoas que se identificam como pessoas LGBTQIA+ e 24 que não se identificam. A maioria das respostas veio de pessoas pardas (24), depois por pessoas brancas (15), pessoas negras (2) e uma pessoa indígena.
O formulário também foi respondido por um homem trans e por duas pessoas não binárias. A maioria das respostas são de pessoas cisgênero.
Gênero
Segundo o levantamento, dos 28 veículos, em apenas um não há mulheres trabalhando no local. Outros 14 veículos confirmaram a presença de cinco ou mais mulheres em seus quadros funcionais.
Em 20 desses veículos, ao menos uma mulher está em cargos de liderança. Durante a pandemia, ao menos 26 mulheres foram demitidas nos veículos e outras 17 foram contratadas.
Quando falamos de pessoas trans, dos 28 veículos que foram identificados no mapeamento, apenas dois contam com profissionais trans. Entre as duas pessoas trans que estão trabalhando nestes dois veículos, uma está em cargo de liderança.
No quesito demissão e contratação, uma pessoa trans foi demitida e uma pessoa trans foi contratada.
Raça
O local de trabalho é menos diverso em três redações que não contam com pessoas pretas e pardas. Outras sete redações contam com apenas uma pessoa preta ou parda entre os funcionários. Apenas em quatro redações foi registrado o número de cinco ou mais pessoas pretas ou pardas trabalhando.
Nenhuma pessoa preta ou parda ocupa cargos de liderança em ao menos 16 redações de Manaus. Em meio à pandemia, ao menos oito empresas registraram a demissão de pessoas pretas ou pardas, enquanto seis redações contrataram profissionais pretos ou pardos.
Sexualidade
Em 21 das 28 redações, pessoas LGBTQIA+ estão presentes. Mas em apenas quatro redações essas pessoas estão ocupando cargos de liderança. Na balança entre demissões e admissões, ao menos 21 pessoas LGBTQIA+ foram demitidas ao passo que nove foram contratadas.
Como tornar minha redação mais representativa?
A Énois criou um espaço que reúne práticas, ferramentas e materiais de referência para produção, distribuição e gestão de um jornalismo mais representativo. É a caixa de ferramentas de Diversidade para as Redações. A iniciativa traz formas para fazer o jornalismo estar a serviço da sociedade. Vale a pena conferir!
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